quinta-feira, outubro 28, 2010

Sem referência

Uma sobrinha de uma amiga, numa conversa entre ela, eu e a tia, num desses sábados em que encontrar os amigos para um chope na praia parece uma ideia fabulosa, mas não é, comentou, ao ver correndo na calçada um homem alto, forte, gostoso e de sunga, como gostaria de ser dona de um espécime daqueles. Assim: Porra, caralho, se foder, como eu queria um desses. Tão entediado quanto estava, aproveitei o fortuito comentário para fincar as patas na garota e sua extrema superficialidade. Desse jeito: Aposto que nem sabe soletrar “halterofilismo” e tem pau pequeno.

A garota, encarnada, virou seu chope e saiu correndo, escangalhada e de havaianas, atrás do bofe.

Volta quase uma hora depois, com ele caminhando ao seu lado, ainda de sunga. Ele senta ao meu lado, se apresenta para minha amiga e eu (Laérces, credo), e engata numa conversa entediante sobre política monetária. Ok, admito, ele devia saber soletrar qualquer palavra difícil, inclusive “soporífero”, que é o que era sua conversa, e, para sorte da pentelha sorridente, devia ter pelo menos 18 cm.

Mas então, qual é a do estereótipo?

Eu podia jurar que alguns dias atrás, qualquer pessoa vestida de preto, com maquiagem preta e cara de maldito, era um gótico ou heavy-metal adorador do demônio ou do Iron Maiden, tanto faz. Agora, não só as vezes me deparo com esse visual cobrindo um ser nerd, fã inato de anime, que trabalha com programação visual, mora sozinho, tem uma namorada gostosa, e só sabe do Iron Maiden a música do Guitar Hero, como acontece de encontrar conhecidos, virgens, com anel de castidade e conta no x-vídeos, desfilando o mesmo visual.

Em resumo, mastigaram e fizeram um escarramento comunitário das referências. Nada é o que parece, quando é, não parece ser, quando parece não ser, pode ser que seja, e pode ser que seja sem parecer, ou não é, nem parece, e faz parte de algo que ninguém conhece, que foi criado ontem, no meio de um almoço de domingo, onde o tio mala resolveu não comparecer para assistir Glee, e sua avó lhe deu uma grana para você gastar no que quiser (inclusive pornografia, ela diz), e você pensa, porra, finalmente vou comprar aquele espremedor de frutas que ainda está em promoção, então, iluminado pela fantástica luz do carro novo que seu pai comprou pra ele, mesmo podendo comprar um fuleirinho pra você, pra te ajudar, nasce uma ideia inovadora como nunca, que é o que é, sem precisar parecer, sem ser, e descobre hoje na internet que um cara na Guiana Francesa teve a mesma ideia, só que em francês; muito mais foda.

As evangélicas não só usam saia comprida e cabelo Mortícia Adams;

Os emos não só escutam My Chemical Romance, eles amam Radiohead e Franz Ferdinand como se todos fossem a mesma coisa; (e são ué, música!)

Seu vizinho turrão, que implica com o lixeiro, gosta de arte contemporânea, e sempre que volta da Bienal parece mais magro;

E aquele carinha inteligente, sexy, e de pau avantajado, não só ficou com a sobrinha da sua amiga, como a pediu em casamento seis meses depois. Mas ela trocou ele por aquele Nerd, que pinta as unhas de preto e tem cabelo comprido.

Não é como se pudesse dizer que as coisas estão piorando, né, Tiririca?

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