sábado, junho 09, 2012

Ideias (do tempo do orkut, validado para o do facebook, sem escalas)

Você pode ter uma ideia estúpida;

Contá-la, sem aviso, interrompendo a conversa;

Perceber o olhar vazio que segue o silêncio após sua fala;

Sentir-se excluído (muito menos do que realmente está) e sofrer com isso;

Deixar os olhos serem inundados pelas lágrimas;

Correr para longe gritando esgoelado “é a melhor ideia que já tive” (o que deve ser absoluta verdade);

Tropeçar na saída, de bico, quedando em escalas enquanto tenta se segurar nas pessoas que se afastam;

Lamuriar-se, em casa, sob os lençóis que já deveriam ter sido lavados, que não deveria ter dito nada;

Julgar, após, que nem deveria ter tido a ideia;

Nunca mais esquecê-la, e, sem querer, terminar seus dias em prol de executá-la.

Você sabe que uma ideia, mesmo estúpida, tornada mais estúpida pelas circunstâncias, pode mudar o mundo;

Mas vai descobrir o quanto ela mudará você.

 

Jac desconhece o sentido que S.M.R.S. tentou imprimir neste texto, e só por isso já o odeia.

terça-feira, maio 15, 2012

Flores e os espinhos numa paulada só

Queria dizer todas as coisas que não lhe disse, que me doeram na cabeça, mas como não as disse quando quis dizê-las, esqueci, e as substitui por quaisquer coisas que tivesse lido. Sorrir é erguer a face e aquecer a mente para enfrentar a vida. Odeio parecer louca e ludibriada. Mas pareço, sou, e no avesso que tento aparentar segundos depois, soa falso, iludido, e além de tudo vão dizer que sou vaca de presépio e me ignorar na próxima rodada. Quase engasgada do choro que seguro, minto, que mentir sai fácil ou parece, o importante é parecer bem quando se está quebrado. Ferido nos três egos fictícios. Queria sentir a força que movimenta os cheios de si a atropelar a vida em suas mobiletes antigas, como se estivessem guiando harleys. Atingir alguém na cabeça e botar a culpa no tempo quente, enlouquece pessoas e seres e bota fogo na reprodução. Continuo entalada em mim, um cheiro de algo vazando, gás, sangue, diarreia, eventos que pesam na mente como chumbo, e que eram de alguém que não conheci. Faça. Só faça. Arraste os móveis para o canto e deixe a sala vazia para caber todos eles, que te amam com cuidado, que te querem bem quando está bem, que te veem como se pinta, que acreditam nas mentiras que inventam sobre como estamos, e não estamos nenhum pouco diferente do que sempre fomos. Ácida, eu, pacato, você, como um arranjo de flores que não sei por que comprei, odeio flores. Bem, agora disse.

E as flores de plástico não tem cheiro de nada, Jac

sexta-feira, abril 13, 2012

O reino de um homem só

Quanto mais se fica sozinho, mais se deixa de fazer sentido.

É que nessa coisa de cotidiano não se encaixa as paranoias que cria a mente quando ociosa. Não cabe a sabedoria adquirida no silêncio estagnado de quem espera, não sabe o que, mas espera, nem tem espaço para a suposta loucura que se arranja quando se escuta apenas o som da própria voz.

Quase magia, não fosse inferno.

Olha-se com a paciência do observador meticuloso, experimentando combinações inusitadas de seres e suas complexidades, exaurindo conceitos que mal entende, para ser incapaz de responder questões básicas como oqueachadessaroupa? Ambígua, irregular, amorfa. Um único poste no meio de uma estrada deserta sem sinal de celular, e seu único deus é o personagem fictício de um livro de seu autor favorito.

Para outros, uma completa falta de remendo. Para você, não.

Quanto mais se está sozinho, mais você parece senhor de um reino que imagina. E os súditos nunca tem razão.

sexta-feira, março 09, 2012

Às vezes

Às vezes se é bom, mas não suficiente.

Às vezes se é bom e suficiente, mas não interessante.

Às vezes se é bom, suficiente e interessante, mas não diferente.

Às vezes se é tudo que se espera, mas queriam surpresa

Às vezes se é a surpresa, mas - ironia do destino - precisavam especificamente de algo.

Às vezes se é vago e acham sentido.

Às vezes o sentido é claro e lhe acham vago.

Às vezes se é intenso intencionalmente e isso soa falso.

Às vezes se é intenso espontaneamente e isso soa exagero.

Às vezes se é o melhor e não basta.

Às vezes se é o pior e já basta!

Às vezes o moderno é estranho. Às vezes é banal. Às vezes é coisa do passado.

Às vezes, mas só às vezes, você pensa que já tentou ser tudo e nada deu certo.

Parabéns. Você é humano. E está vivo.

sexta-feira, setembro 16, 2011

Encanto

No canto onde cantar encanta só o jarro, no canto estranho onde nem cantar espanta, um pensamento se forma e toma conta, a verdade que invento me toma. Quando vejo estou embebida de dor e tormento, o canto rachado eu nele. Esfrego a cara e o choro aumenta, espero passar a tarde e a noite entra, abrindo a cortina com vento, derrubando o jarro de água, ela e minhas lágrimas empapando o chão. E será que ainda aguento? Enfrentar sem medo minha mente tonta, que quer sofrer e faz de conta que tudo a minha volta me encontra pra me botar arrastada, suja e descalça na estrada, cheia de horror e confusão. Logo de volta ao canto de onde vim, onde ao cantar assim, com a voz rachada, sangrando, eu via o vazio maciço tomar meu pranto, e arrancar meu chão. Vou levar do canto o canto, o que canto pra cessar o momento, o pensamento, o encanto que já fiz cessar. Nada sobra, além de cacos, e um asfalto que me aguarda e escolhi para adornar a tristeza paga que acabei de quitar.